terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Médico-Hospitalista: ganhos para o hospital, a operadora e o corpo clinico

Por Genésio Korbes

A consolidação da uma especialidade médica bastante recente vem ganhando destaque no debate sobre a evolução da assistência hospitalar. Trata-se da Medicina Hospitalar, que tem como ator principal o médico-hospitalista, que está para as Unidades de Internação ou Unidades Não-Críticas assim como o intensivista está para as UTIs e o socorrista para os Prontos-Socorros.

O primeiro artigo sobre o assunto de que sem tem notícia foi publicado em 1996 e teve autoria do médico norte-americano Robert M. Wachter, referência nessa área. Os Estados Unidos foram pioneiros, ao criar, em 1997, uma sociedade nacional para abrigar o debate sobre o tema – fato que ocorreu no nosso país onze anos depois, em 2008, com a fundação da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (SOBRAMH). Agora, o Brasil se prepara para promover, em novembro, o I Congresso da Sociedade Pan-Americana de Hospitalistas, em Santa Catarina, com a participação de palestrantes internacionais.

O crescimento da especialidade é altamente significativo. Ainda nos Estados Unidos, havia 1.000 médicos-hospitalistas, número que passou a 20 mil após uma década. Hoje, estima-se que existam 35 mil médicos-hospitalistas naquele país, onde, ao que tudo indica, a Medicina Hospitalar tende a ser tornar a maneira dominante de cuidados dos pacientes hospitalizados.

Embora ainda esteja presente em um número reduzido de hospitais brasileiros, o papel do médico-hospitalista merece ser examinado com atenção. Digo isso não somente pelo fato de receber destaque crescente no cenário de saúde da maior potência mundial como também por trazer consigo benefícios para todos os principais integrantes dessa cadeia – corpo clínico, paciente e operadora de plano de saúde –, em uma relação ganha-ganha. Sem contar, é claro, com os benefícios em relação à segurança do próprio paciente; afinal, é ele o centro gravitacional de todo o processo da assistência hospitalar.

Ganhos para os hospitais: Agilidade nos processos assistenciais (por exemplo, recepção de pacientes da UTI e do Pronto Socorro e cedência de vagas); Apoio à equipe multidisciplinar e ao Time de Resposta Rápida; Segurança do paciente; Redução do tempo de internação e aumento da rotatividade dos leitos; Organização do prontuário; Interação com os serviços de diagnóstico; Apoio ao Faturamento e à Auditoria; Instrumento de avaliação das equipes médicas do Corpo Clínico; Assessoria à Direção Médica.

Ganhos para o Corpo Clínico: Segurança para o médico-assistente; Suporte médico em casos emergenciais, gerando satisfação do Corpo Clínico e aumentando a segurança do paciente; Contínua presença do médico, evitando uma assistência fragmentada; Gerenciamento das intercorrências; Diferencial da qualidade médica assistencial; Estímulo à melhoria contínua da assistência; Monitoramento do desempenho do Corpo Clínico; Contribuição à qualidade do prontuário, ordenado, revisado e com as prescrições corretas.

Ganhos para a operadora: Critérios e protocolos definidos para o faturamento da conta; Diminuição da necessidade de auditorias; Prontuário do paciente “limpo”; Diferencial competitivo: menor custo, mais organização, documentação em ordem e válida, tempo de entrega de conta e rotatividade do paciente; Agilidade com autorizações prévias e posteriores; Redução do índice de glosas; Fluxo de caixa mais oxigenado; Agenda positiva para o relacionamento comercial.

A equipe de hospitalistas deve ser formada por médicos-clínicos, com foco em áreas como Cardiologia e Clínica Médica. Além disso, deve haver uma base de dados informatizada e disposição para alinhar processos que envolvem toda a equipe multidisciplinar. Os hospitalistas devem conhecer o funcionamento do hospital e estar alinhados com a estratégia da alta administração sem perder o foco nos interesses do paciente.

O cenário apresentado acima beira o ideal. Não se espera que, com a contratação de uma equipe de médicos-hospitalistas, todas as melhorias sejam prontamente concretizadas. A relevância da Medicina Hospitalar não é unanimidade – há inclusive quem alerta para o risco de o médico-hospitalista se tornar um “faz-tudo” nas Unidades de Internação. Porém, é evidente a relação ganha-ganha que se pode obter desde que essa implantação ocorra de forma bem planejada, desde a redução das médias de permanência, o impacto econômico nos custos do hospital e o aumento dos índices de satisfação do cliente.

Diante do exposto ao longo deste artigo, concluo que a junção de fatores como o conhecimento técnico, da evolução da história clínica do paciente, do gerenciamento do risco e da gestão, que caracteriza o perfil do médico-hospitalista, é altamente positiva. A prática desse especialista representa uma mudança significativa no sentido de aumentar a qualidade e segurança e diminuir os custos da assistência à saúde.

Na ausência de estudos nacionais aprofundados sobre o tema, lanço mão de resultados da última revisão feita pela Mayo Clinic (EUA), em 2009: de 33 estudos focados na Medicina Hospitalar, a maioria mostra que a presença do hospitalista contribui efetivamente para reduzir o período e os custos das internações, enquanto em três deles não houve diferença e em somente dois houve uma melhor sem a presença dessa especialidade. É algo a se pensar.

Genésio Korber é Administrador Hospitalar, MBA em Gestão Empresarial, Sócio-diretor da Korbes Consulting

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