Por Jaime Gil Bernardes
Estava lendo uma revista especializada em hospitais que apregoava na capa uma matéria sobre Inovação em Saúde. Fui ler esta matéria, pois este assunto me interessa muito. Mas para minha surpresa, nada de diferente. Uma decepção. Continuam a dizer banalidades e intitular como “inovação na saúde.”
Até os livros que tenho lido específicos sobre saúde, hospitais e inovação não são convincentes, pois os assuntos são os mesmos e parece que a área hospitalar ainda não entendeu que inovar é fazer algo diferente com intuito de ter um resultado financeiro positivo sobre isso.
Mas como fazer isso, como implantar usinas de inovações dentro de hospitais se os conceitos de gestão, de controle de processos, de organização, de desenvolvimento da estratégia continuam, de liderança, de relacionamento com os clientes a ser os mesmos do século passado.
Os conceitos de gestão em hospitais estão muito atrasados em relação a industria, ao comércio e mesmo aos outros tipos de serviços. Coisas simples que a informática e a mudança cultural (isso está escrito nos primeiros trabalhos de reengenharia) poderiam resolver, como a implantação de um ERP (sistema informatizado de gestão de operações) e o próprio prontuário eletrônico do paciente são difíceis de implantar por causa desta maneira antiga de fazer gestão e querer perpetuar esta cultura.
Alguns gestores são ultrapassados, pois em muitos casos são pessoas despreparadas, da comunidade, fazendo o favor de assumir um hospital comunitário. Em um artigo que escrevi há alguns anos, na minha pesquisa mostra que muitos hospitais podem, sim, serem lucrativos com modelos de gesto e qualidade adequados. Isso faz muita diferença entre a continuidade da organização e seu fechamento.
Claro que temos muitos bons exemplos de hospitais geridos de forma pró-ativa, por administradores profissionais, que cursaram faculdade de Administração Hospitalar e foram fazer especializações em gestão. As estes hospitais são uma exceção, pois a grande maioria dos hospitais, principalmente os filantrópicos, ainda continuam a serem administrados por pessoas de boa vontade, ou por apadrinhados, sem condições de administrar uma empresa tão complexa, que precisa diariamente se aperfeiçoar e criar condições de trabalho com recursos pequenos.
Aliado a esta gestão ultrapassada em conceitos, temos que o grande parceiro dos hospitais, que é o médico, resistente a mudanças, principalmente aqueles mais antigos. A geração de médicos que hoje chega ao mercado, que carregam seus notebooks embaixo do braço, já possuem uma visão diferenciada, entretanto continuam a serem corporativistas, pois foi isso que ainda ensinam na faculdade de medicina. Os médicos, de uma maneira geral, querem continuar fazendo da mesma maneira e da maneira como eles querem que seja feita.
Mais do que isso, os enfermeiros ainda não assumiram seu papel de líderes dentro dos postos assistenciais. Estes profissionais são carregados de conhecimentos técnicos, mas em suas faculdades, as disciplinas de gestão organizacional passam a berlinda de seus estudos. Eles são o elo de ligação entre a organização e aqueles que realmente mostram a cara ao paciente, que é técnico de enfermagem. A inovação, neste caso, é fazer com que os enfermeiros se transformem em líderes e assim ajam.
O funcionários de outras áreas do hospital, como recepção ou admnistração, não sabem que para trabalhar em hospital tem ser uma pessoa diferenciada. É preciso ter paciência com o paciente, ser atencioso com os familiares, trabalhar sobre pressão, não reclamar em momento algum e em algumas situações, consolar, se comover ou mesmo dar um bom dia ao paciente que passa no corredor. Difícil ser assim? Muito difícil, mas é uma realidade. Em um hospital, ”todos” os funcionários estão lá para atender as necessidades de cura do paciente. Quem não tiver esta predisposição, por favor não trabalhe em um hospital.
O paciente e seus familiares só querem serem tratados com atenção e respeito. Isso é inovação, pois nem sempre é assim que acontece. Bastaria que cada funcionário realmente se preocupasse com o bem estar de cada paciente, cada familiar, por cada funcionário que o cerca.
Minha pesquisa de mestrado mostrou que o cenário para as organizações hospitalares no futuro é baseado em conceitos de gestão, em exigências que a concorrência irá fazer para que o serviço de seu hospital seja melhor, que as consultorias estarão mais presentes nas organizações hospitalares, que os hospitais irão profissionalizar cada vez mais sua gestão e que os projetos de qualidade e acreditação serão uma constância. Isso mostra que os atuais gestores sabem que tudo isso é um problema, mas não possuem a capacidade de mudar a cultura em busca de fazer diferente e melhor.
Lembro que de acordo como Manual de Oslo, as inovações podem ser de produto, de marketing, de processos e organizacionais, sendo que podem ser classificadas como incremental, radical ou transformacional.
Quando os sistemas de qualidade chegaram aos hospitais, de forma muito atrasada, e as acreditações começaram a dar efeitos, podemos considerar uma inovação que realmente gerou resultado. Mas, como continuam correndo atrás, as indústrias há muito tempo já implantaram o sistema Lean e o Six Sigmas. O sistema Lean faz uma análise crítica de processos que realmente agregam valor ao cliente e tem um grande foco na detecção dos desperdícios. O Six Sigmas tem trabalha com projetos visando reduzir o número de erros a um nível inexpressivo em relação ao número de operações. Estas ferramentas só agora começam ser pensadas pelos hospitais. Quem sabe um dia sejam implantadas. Isso seria uma inovação radical.
É necessário uma mudança de cultura nos hospitais, aliando a lucratividade e continuidade, com a satisfação e a resolutibilidade do problema do paciente e com a postura de um funcionário satisfeito em trabalhar em um hospital, com uma constante análise de cada processo que ocorre.
Então a grande inovação na gestão dos hospitais é olhar mais para os modelos adotados na indústria e fazer com que a cultura seja pró-ativa, focada nos processos, no cliente e respeito ao ser humano, seja ele paciente, seja ele funcionário ou médico.
Por fim, deixo a Definição de Demência: “esperar que haja sucesso fazendo as mesmas coisas, todos os dias, da mesma maneira”.