A pedido de EXAME.com, o INPI listou as companhias que mais depositaram pedidos de patentes entre 2005 e 2009
Por Luciana Carvalho, de EXAME.com
Pesquisa e desenvolvimento
São Paulo – A patente é uma das principais provas do desenvolvimento científico e tecnológico de um país ou empresa. No entanto, nessa corrida o Brasil ainda está atrasado. Apesar de o país ter figurado no 13º lugar em volume de produção científica no mundo, em 2008, segundo relatório da UNESCO, o número de patentes registradas ainda é baixo. De acordo com dados de 2009 da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Wipo, na sigla em inglês), o Brasil ficou em 25º lugar em registros de patentes internacionais, com 355 pedidos. Os Estados Unidos ficaram em primeiro, com 45.790.
Mesmo estando em uma posição longe do ideal, o Brasil tem melhorado. Segundo o INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial -, as patentes nacionais concedidas entre 2007 e 2009 saltaram de 1.842 para 3.153. O número de análises feitas por ano pelo INPI também aumentou, passando de 9.643, em 2005, para 16.878, em 2009. A pedido de EXAME.com, o INPI divulgou a lista das empresas brasileiras que foram campeãs em depósitos de patentes, entre 2005 e 2009. Os dados de 2010 não podem ser incluídos, segundo o instituto, porque há um período de sigilo de 18 meses para cada patente. Confira.
Petrobras, a campeã das patentes
De 2005 a 2009, a Petrobras depositou 534 patentes no INPI, se tornando a empresa brasileira de maior destaque nesse quesito. A produção do conhecimento é garantida pelas parcerias da empresa com universidades e centros tecnológicos por meio do Cenpes, o Centro de Pesquisas da Petrobras (foto). A companhia possui, atualmente, parcerias com cerca de 80 instituições de pesquisa e desenvolvimento, espalhadas por 19 estados brasileiros.
Segundo a empresa, o investimento anual médio na área de inovações tecnológicas tem sido de 400 milhões de reais. Essa preocupação da Petrobras com seu desenvolvimento científico garantiu à empresa o 41º lugar na lista das 50 empresas mais inovadoras do ano de 2009, no ranking divulgado pela revista americana Bloomberg BusinessWeek.
Usiminas pesquisa até energia eólica
Com 297 patentes depositadas de 2005 até o ano passado, a Usiminas é um exemplo de que é possível inovar também em setores considerados tradicionais, como a siderurgia. Depois de uma reestruturação, feita em 2008, a companhia ficou mais aberta e mais focada no setor de pesquisa e desenvolvimento. A mudança na gestão deu origem à Diretoria de Pesquisa e Inovação, que unificou os processos inovadores, que ocorriam de forma dispersa entre os outros departamentos. Dentro do leque de responsabilidades da nova equipe, concentram-se a transferência de tecnologia, gestão do conhecimento e da inovação, e pesquisa e desenvolvimento.
Por meio do Centro de Tecnologia Usiminas (CTU), antigo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, a companhia quer se voltar, principalmente, para as descobertas para os mercados de energia eólica, óleo e gás e construção civil. O CTU já recebeu mais de 100 milhões de doares em investimentos, desde sua fundação, em 1971, incluindo equipamentos e instalações. Para os próximos anos, a ideia é investir ainda mais na modernização e no desenvolvimento dos laboratórios do centro.
Arno e a busca por novos negócios
Inovação é algo característico do Grupo SEB, dono da marca Arno, que ocupa o terceiro lugar em depósitos de patentes no INPI, com 206 pedidos. Só em 2007, a empresa lançou 250 novos produtos no mercado mundial. Desde que foi comprada pelo Grupo SEB, em 1997, a marca Arno recebeu mais investimentos para projetos de inovação e, assim, poder se reposicionar no mercado.
O crescente investimento em pesquisa e desenvolvimento resultou em novos artigos nas linhas de liquidificadores, ventiladores e ferros de passar roupa. Somente no ano passado, a Arno lançou cerca de 20 produtos novos. Além de buscar novidades para seus itens tradicionais, a empresa também ingressou em novos negócios, como a linha de cuidados pessoais e aspiradores, para dar mais força à inovação.
Vale cria instituto para acelerar inovação
Acostumada a figurar no topo de diversas listas, como a de maior empresa privada do país e maior produtora de minério de ferro do mundo, a Vale ocupa apenas a quarta posição no ranking do INPI, com 190 depósitos de patentes em quatro anos. A companhia possui três laboratórios de pesquisa. Dois deles estão no Brasil: o Centro de Desenvolvimento Mineral (CDM) e o Centro de Tecnologia em Ferrosos (CTF). O outro é o canadense Vale Technical Services Limited (VTSL). As parcerias com agências de fomento à pesquisa e universidades de vários estados brasileiros e até outros países, como Suíça, China, Austrália, Holanda e França, também são parte significativa para a inovação na empresa.
Em 2009, a Vale lançou outra iniciativa para ampliar suas pesquisas, o Instituto Tecnológico Vale (ITV). A primeira unidade do instituto está sendo instalada no Pará e tem foco em sustentabilidade. Além dessa, o ITV ainda terá unidades de pesquisa em Minas Gerais e São Paulo, com foco em mineração e energia. Os projetos da Vale no campo da inovação estão reunidas no site inovacaovale.com.br.
Embraco aplica 4% da receita em pesquisa
Não importa quando ou em que circunstâncias, a fabricante de compressores Embraco sempre separa 4% de seu faturamento anual para investir em inovação. Entre 2005 e 2009, a empresa, que é controlada pela Whirlpool, entrou com pedido de 145 patentes no INPI.
Além da quantia garantida para os projetos, a Embraco também conta com parcerias com universidades e instituições do governo, mais de 40 laboratórios nas fábricas e 450 profissionais especializados na área tecnológica. Todo esse empenho na área levou a empresa a receber, neste ano, pela terceira vez, o Prêmio FINEP de Inovação nas categorias Grande Empresa e Gestão da Inovação.
Souza Cruz, inovação para vencer restrições de mercado
Os 124 depósitos de patentes da Souza Cruz entre 2005 e 2009 são fruto de ações integradas de tecnologia e inovação desenvolvidas no Regional Product Centre para as Americas (RPC Americas). Esse centro de excelência coordena regionalmente o desenvolvimento de produtos da British American Tobacco, grupo que engloba Souza Cruz. O RPC Américas surgiu em 2007, fruto da integração do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da empresa (no Rio de Janeiro) com a unidade fabril de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul.
Investir em inovação é uma das apostas da empresa para superar as crescentes restrições ao fumo no país. Com uma estrutura composta por 19.800 metros quadrados de área construída, o RPC tem cinco blocos integrados de laboratórios e uma planta piloto voltada para o desenvolvimento de amostras de cigarros e novos tipos e processos de fabricação. A construção do centro demandou um investimento de 150 milhões de reais. Hoje, o RPC é um dos únicos centros de pesquisas da British American Tobacco capacitado para fazer todas as análises de fumo e cigarros exigidas pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão do Ministério da Saúde).
Duratex coloca a construção civil no ranking
A Duratex, fabricante de painéis de madeira industrializada e metais sanitários, conta com uma forte estrutura para manter os 117 pedidos de patente feitos entre 2005 e 2009. O complexo industrial da empresa engloba 12 unidades distribuídas pelo Brasil – oito ficam em São Paulo, duas no Rio Grande do Sul, uma em Minas Gerais, uma em Pernambuco e uma no Rio de Janeiro. Para obter matéria-prima, a empresa tem 224.000 hectares de florestas plantadas, principalmente de eucalipto, em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Até 2012, a empresa planeja investir 368 milhões de reais, sendo que 220 milhões vão para a Divisão Deca e 148 milhões para a Divisão Madeira. Parte dos recursos será aplicada em pesquisa e desenvolvimento de produtos para, assim, acompanhar as tendências do mercado consumidor.
Cosipa, outra siderúrgica na lista
Completamente integrada à Usiminas desde março de 2009, a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) acumulou 102 pedidos de patentes de 2005 até o ano passado. Depois de privatizada, em 1993, a empresa foi reestruturada e focou em ganhos de produtividade e na modernização de seu parque fabril.
Um dos focos para crescer foi o investimento em inovação dos processos siderúrgicos, mesmo após ter sido a siderúrgica de pior desempenho do país quando ainda era estatal. A renovação do parque industrial da Cosipa, encerrada em 2001, foi um forte impulso para a empresa, que passou a operar com capacidade máxima, cumprindo um plano de investimento de 1,1 bilhão de reais.
Telebrás e Multibrás empatam em nono lugar
Empatadas no nono lugar, a resgatada Telebrás e a empresa de eletrodomésticos Multibrás – que representa as marcas Cônsul e Brastemp, depositaram 100 pedidos de patentes no INPI cada uma, em quatro anos. Depois do aporte de 200 milhões de reais no final de 2007, a Telebrás passou a ser a gestora dos recursos do FUST – Fundo para Universalização do Sistema de Telecomunicação - e do Plano Nacional de Banda Larga. Mesmo adormecida, a companhia se desenvolveu em inovação nos últimos cinco anos. Em março de 2010, ela foi reativada na Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Ela é a aposta do governo para gerir infraestrutura das redes de suporte a serviços de telecomunicação de empresas privadas e públicas e pretende administrar a malha de fibras óticas da Eletrobrás e da rede de fibra ótica da Petrobras.
A Multibrás, subsidiária da Whirlpool, possui uma razoável estrutura de inovação. Desde a fusão das marcas Brastemp e Cônsul, dando origem à Multibrás, em 1994, foram lançados mais de 400 novos produtos e cerca de 45 milhões de unidades foram vendidas no país. As pesquisas da Multibrás são realizadas em 20 laboratórios de P&D e quatro centros de tecnologia, que criam novos produtos que são exportados para 70 países.
CSN e a Lei do Bem
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é a última da lista de maiores pedidos de patente, entre 2005 e 2009, com 98 depósitos. Com um investimento de cerca de 30 milhões de reais por ano em pesquisa e desenvolvimento, a empresa usa a chamada Lei do Bem, que dá incentivos fiscais a quem investe em P&D, desde a criação da legislação, em 2006.
As inovações se consolidaram na CSN a partir de 2004, quando a companhia criou uma lata de leite condensado em um novo formato. Apesar de possuir um centro de pesquisa e desenvolvimento específico, a empresa incentiva a criação de novas ideias e processos em todos os setores e unidades.
http://exame.abril.com.br/negocios/inovacao/noticias/as-empresas-brasileiras-que-sao-campeas-de-inovacao?p=1#link