Por Jaime Gil Bernardes
Observo que em grande parte dos hospitais onde presto consultoria, uma das primeiras coisas que me colocam é que “aqui é diferente” ou “aqui as coisas não funcionam” ou “a nossa cultura é assim mesmo”, atribuindo as possíveis dificuldades de gestão a problemas ditos culturais.
Interessante como as organizações atribuem a sua incapacidade de resolver problemas a uma concepção que ela nem entendem perfeitamente o que significa, sendo mais fácil achar um “culpado” (no caso a cultura organizacional) do que tentar reverter a situação, procurar métodos de mudança, inovar sua gestão, aplicar conceitos pró-ativos e realmente resolver os problemas.
Me passou pelas mãos uma abordagem de Maria Teresa Fleury que achei apropriada para tentar entender esta situação, que coloca que “pelo fato do conceito cultura organizacional não estar suficientemente definido para o contexto organizacional, corre-se o risco de transformar a cultura organizacional numa vala comum, onde sepultam, indiferentemente, todos os problemas de origem obscura, assim como todas as propostas de mudanças abortadas”.
Interessantíssimo, pois define aquela caixa preta que ninguém entende, para onde vão os problemas que não são resolvidos, bem como as tentativas de mudança que não possuem um apoio político interno. Esta abordagem consegue responder em parte ao caos que significa a cultura organizacional arraigada nos hospitais. Fleury defende que existe um culturalismo, em contraponto a cultura.
Pode-se observar que um dos maiores contribuintes para o culturalismo são os valores pagos pelo SUS pelos tratamentos, onde os administradores se agarram a isso como sendo a culpa de tudo que acontece de ruim nos hospitais, defendendo seu fracasso como gestor, impedindo que sua mente seja aberta para reais soluções, que proporcionariam uma vida (ou sobrevida) melhor às organizações hospitalares. É mais fácil jogar a culpa no SUS do que tentar achar uma maneira de resolver os problemas.
Segundo Edgar Schein “Cultura Organizacional é um conjunto complexo de valores, crenças e pressupostos básicos (sistemas, símbolos, mitos, padrões, etc.) que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionam bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados aos novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas.
Ou seja, isso não tem nada a ver com “tudo aquilo que dá errado”, como defende Fleury. Schein coloca Cultura Organizacional como elementos de resolução de problemas e andamento de processos internos e não como um lugar onde as coisas não resolvidas são rotuladas e aceitas, culpando os problemas como “assim é a cultura da empresa”.
Ledo engano: temos que mudar este “culturalismo”.
Insisto na minha colocação que o problema da saúde no Brasil não é falta de dinheiro, mas sim um sistema de distribuição de recursos inadequado (muitas vezes corrupto) aliado a uma incapacidade de gestão que povoa as diretorias de muitos hospitais.
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