Desde que comecei a trabalhar com Auditoria, tenho ouvido falar que o que realmente as empresas clientes querem das empresas de Auditoria Independente seriam trabalhos de AUDITORIA OPERACIONAL. Esta expectativa sobre o assunto de Auditoria Operacional se daria principalmente nas empresas que não são obrigadas a contratarem serviços de Auditoria Independente (no caso as empresas S.A. de capital aberto, administradoras de consórcio, filantropias, etc.) que querem não somente um Parecer de Auditoria, mas uma visão técnica e externa sobre o seu negócio.
Entretanto, para mim isso sempre ficou apenas no conceitual, numa previsão, sem que na prática eu tivesse visto este assunto evoluir ou ser praticado.
Resolvi pesquisar a respeito e descobri que a literatura sobre Auditoria Operacional é muito pobre, contando com pouquíssimas publicações e mesmo assim muitas delas voltadas ao setor público, se tratando de manuais de Auditoria Interna. Minhas pesquisas foram na internet, bibliotecas, livrarias e sites de livrarias. Procurei, também, expressões sinônimas como “Auditoria de Desempenho”, mas também não fui muito feliz em minha pesquisa.
A partir destes pressupostos, resolvi clarificar este assunto, não sendo uma posição e nem uma conceituação definitiva, mas um modelo a ser estudado e aperfeiçoado. Desenvolvi este texto e a seguir um roteiro de trabalho, de tal forma que possamos executar a dita Auditoria Operacional.
DEFINIÇÃO
O objetivo da Auditoria Operacional é analisar uma empresa, buscando assessorar a sua administração no desempenho efetivo de suas funções e responsabilidades operacionais, avaliando a organização, departamento, atividade, sistemas, funções e operações, verificando se estão atingindo os objetivos organizacionais e gerenciais com eficiência, eficácia, economicidade na utilização dos recursos financeiros, materiais humanos e tecnológicos, bem assim se está sendo observados os regulamentos aplicáveis.
Existe uma certa proximidade do conceito de Auditoria Operacional e análise de controles internos. Mas não se trata da mesma coisa, pois análise de controles internos verifica se os procedimentos de segurança da empresa são confiáveis de tal forma que permita que não haja brechas para roubos ou fraudes na corporação, bem como se a contabilização das operações foram corretamente realizadas. A Auditoria Operacional vê de uma forma diferente, ou seja, se as regras de gestão existem e se estão sendo bem executadas, visando garantir a economia e a maior lucratividade, tendendo a ser uma consultoria de gestão, onde o trabalho resultará em uma maior eficácia na utilização dos recursos.
A Auditoria Operacional ou de Desempenho Administrativo é uma tecnologia que se deriva de outra (Auditoria), possuindo como base as ciências da Contabilidade e a da Administração.
Basicamente o que a Auditoria Operacional quer é responder são as seguintes perguntas:
- Os procedimentos planejados e adotados pela empresa em rumo ao lucro realmente estão sendo executados pela organização?
- Para onde está indo o lucro da empresa?
Mais especificamente, a Auditoria Operacional é um procedimento bastante flexível, sendo estabelecida de acordo com a necessidade e expectativa da empresa auditada.
ABRANGÊNCIA
A Auditoria Operacional aponta todos os nichos e setores onde se tem que atuar para maximizar o lucro operacional bruto.
Pode abranger as seguintes abordagens:
Entradas: Fretes, recepção de materiais, etc.
Compras: Análise dos procedimentos e dos custos de aprovisionamento, com circularização externa de valores, prazos e condições, verificação da competitividade das "compras".
Processamento: Estoques (inventário e controles), tratamento das perdas, relação entre estoques e consumo, armazenagem, níveis de produtividade, logística, etc.
Saídas: Expedição de materiais, frete, etc.
Vendas: Procedimentos de motivação e administração de equipes, consistências de roteiros, atendimento de clientes, objetividade dos contratos, equipes, prazos reais entre vendas, faturamento, cobrança, agressão à concorrência e pela concorrência, segmentação e cobertura do mercado, manutenção e recuperação da clientela.
Mercado: Verificação da eficácia do atendimento da empresa, mediante pesquisa de campo com os clientes, avaliando grau de satisfação e tabulando não-conformidades.
Financeiro: Movimentação e atualização de transações com instituições financeiras ou empresas ligadas; controle específico de contas a pagar e contas a receber; aderência do orçamento e fluxo de caixa relacionado à realidade contábil da empresa, alocação dos recursos financeiros, gestão financeira, suporte documental integrado para prática financeira, administração do processo crédito – faturamento – contas a receber – cobrança.
Recursos Humanos e Departamento de Pessoal: Avaliação das rotinas de admissão, demissão, processamento de proventos e descontos, documentação trabalhista, encargos sociais, análise do clima motivacional, das incidências e dos custos de pessoal, do passivo trabalhista, dos procedimentos do setor de pessoal e dos métodos empregados para administrar pessoal.
Fiscal: Avaliação das rotinas de tributação, verificando se as melhores opções estão sendo adotadas pela empresa, em consonância com a legislação vigente. Verificação da adequação das apurações, recolhimentos e livros fiscais obrigatórios.
Sistemas Informatizados: Avaliação dos principais mecanismos de controle proporcionados pelos sistemas, participando, quando aplicável, de comitês de usuários ou assemelhados, minimizando riscos em sistemas em desenvolvimento ou em alteração, focando principalmente a segurança em informações.
Controle sobre Ativos: Verificação dos mecanismos de controle sobre outros ativos da empresa, incluindo investimentos e imobilizado, efetuando confirmações com terceiros ou verificação física, se necessário.
Investimentos: Aplicações, registros e sua contabilização; cronogramas de deslocamento do Ativo Circulante e reflexos no Capital-de-Giro.
Estrutura Organizacional: Essencialidade, coesão, flexibilidade, comunicações formais e informais, aspectos estruturais e comportamentais, estruturas de salários e benefícios, planos específicos de remuneração (direção e gerência), níveis de aprovação de atos e de gastos.
Produção: Análise dos procedimentos e dos custos dos processos fabris, do PCP, da Manutenção, do CQ, do transporte e dos serviços industriais auxiliares, que implicam na formação dos produtos e dos seus custos produção e produtividade.
Auxílio à Gestão: A atuação nas áreas operacionais certamente proporciona à equipe de Auditoria amplo conhecimento das rotinas da empresa, podendo esta ser consultada nos estudos para alteração de controles internos ou gestão da empresa.
PROFISSIONAL
No que se refere ao profissional que realizará o trabalho de Auditoria Operacional, pode ser um funcionário interno (algo como Auditor Interno Operacional). Mas devemos ter em mente que se trata de um profissional com o conhecimento das técnicas de Auditoria convencional, sendo quase sempre oriundo da Ciências Contábeis, com forte conhecimento de controles internos e com percepções inerentes aos administradores, principalmente na análise de processos. É bem mais que um auditor contábil, pois tem que mesclar os conhecimentos de um auditor com os de um consultor de gestão.
Mas este trabalho pode ser executado por um profissional externo a organização, a exemplo da Auditoria Independente de Demonstrações Contábeis. Isso se dará quando não houver em seus quadros um profissional com as habilidades descritas para este tipo de procedimento. Lembro que deve ser respeitada a independência do auditor independente, caso o auditor operacional externo seja o mesmo que executa a Auditoria Contábil Independente, devendo seguir, neste caso, as regras que permitem a execução de trabalhos de consultoria em paralelo ao de Auditoria.
Uma empresa deve procurar um serviço de externo quando ela não conhece exatamente quais são as suas deficiências operacionais e de gestão, ou conhece mas não possui método de trabalho para sistematizar, monitorar e resolver os problemas em rumo a solução. A organização quando percebe que alguma coisa que pode ser melhorada, busca ajuda externa para identificar o problema.
A partir desses pressupostos, apregoa-se que o auditor operacional externo deve desenvolver um processo de envolvimento com o cliente (organização) de tal modo a se criar um senso de responsabilidade compartilhada desde a identificação dos problemas até na determinação de quais seriam as soluções alternativas. Assim fazendo, o auditor operacional externo permitirá ao cliente não só revelar suas capacidades de diagnóstico e prescrição, como também o ajudará a "aprender a aprender". Desta forma, a empresa continuará sempre sentindo que o problema a ser resolvido é seu e não do consultor.
Sem querer repetir o que já é bastante sabido, os dados e informações obtidos no decorrer dos trabalhos serão mantidos em absoluto sigilo, conforme as normas que regem a profissão do auditor.
MOTIVOS QUE DESPERTAM A NECESSIDADE DA AUDITORIA OPERACIONAL
Consideramos que a empresa deva estar sempre em processo de mudança organizacional em busca da excelência operacional e administrativa. Esta posição pode ser muito confortável ou perigosa, pois a empresa pode estar com seu foco difuso, requerendo algumas visões externas para clarificar a sua missão e sua competência.
Os modelos administrativos perfeitos (excelentes) não duram e devem sempre estar se reciclando, pois as pessoas mudam, o mercado muda e as empresas têm que mudar. O que sempre foi bom para a empresa tem que ser repensado e reavaliado. Pode ser que nada mude nesta análise, mas o próprio fato de analisar repercute como aprendizado de como a empresa está se comportando.
Mas a principal motivação que desperta a necessidade de uma Auditoria Operacional é a busca por processos perfeitos e seguros, que resultam em maior lucratividade, objetivo maior de uma organização.
MÉTODO
Como método básico de trabalho a ser utilizado, a Auditoria Operacional se dará pela análise dos processos da organização através de um cronograma previamente acertado, sendo que o planejamento se dará especificamente para cada projeto a ser executado (cada área a ser auditada).
Diferentemente da Auditoria das Demonstrações Contábeis, onde o objeto principal é um Parecer de Auditoria exprimindo uma opinião, dos trabalhos de Auditoria Operacional resultam relatórios em que são abordados os aspectos analisados e a conclusão quanto à existência e efetividade dos controles. As eventuais não-conformidades detectadas são descritas de forma detalhada, apresentando exemplos, conseqüências do fato, valores envolvidos e sugestões para a sua regularização. É recomendável que o processo envolva reuniões de encerramento com as áreas analisadas.
O auditor que irá executar os trabalhos deverá ter acesso a todos os documentos, fluxos, livros contábeis fiscais e societários, estoques físicos, bens do ativo permanente, documentos de terceiros inerentes as operações da entidade, consultas a terceiros quando em operações executadas com a entidade, a entrevistas com funcionários e chefias, e qualquer outro tipo de informação que solicitar e que forem julgadas necessárias ao bom andamento dos trabalhos.
PLANEJAMENTO DA AUDITORIA OPERACIONAL.
A base para o Planejamento da Auditoria Operacional passa pela análise prévia de elementos importante de gestão, que permitirá a emissão da opinião sobre o desempenho da empresa, ou sejam:
1. A evolução da carteira de clientes e do lucro;
2. A inserção da empresa em programas de qualidade e de melhoria de desempenho;
3. O contexto sócio-econômico em que a empresa se situa;
4. A estrutura administrativa, o valor humano de liderança e o do pessoal;
5. Os objetivos da empresa e a forma de controle da obtenção destes objetivos;
6. A evolução patrimonial
7. A agilidade de comunicação e coordenação de pessoal interno e deste com os agentes externos;
8. A atualização das técnicas de trabalho e a obsolescência de seus processos;
9. A validade dos controles internos;
10. As condições éticas da empresa em seu mercado;
O que se visa, principalmente, é conhecer quais as metas estabelecidas, que qualidade e quantidade de meios pessoais e materiais foram colocados à disposição para que os objetivos fossem conseguidos, que tipo e que qualidade de administração se elegeu, quais as perspectivas e possibilidades na captação de recursos, que métodos de trabalho (processos) foram empregados, que indicadores permitem avaliar o desempenho e o que resultou da combinação de todos esses fatores.
O roteiro de Auditoria Operacional comentado no início é um assunto que fica para o próximo artigo, até porque é um material customizado para cada situação, para cada empresa.