Por Diego Antonelli
Jornal Gazeta do Povo – Curitiba – PR - 10/02/2016
As dificuldades financeiras dos
hospitais filantrópicos não podem ser explicadas somente pela defasagem na
tabela de pagamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa é a posição do
especialista em gestão em Saúde, Jaime Gil Bernardes, mestre em Administração.
Segundo ele, é inegável que os valores pagos pelo Ministério da Saúde são
baixos, mas outros fatores ligados a dificuldades de gestão hospitalar
interferem diretamente no setor, que vive o risco de ter leitos fechados em
todo o Brasil. A dívida do setor é de R$ 21 bilhões em todo o país.
Dívidas ameaçam funcionamento de Santas Casas e hospitais
filantrópicos - Leia a matéria completa
“Na realidade os baixos valores pagos pelo SUS se tornaram um
culturalismo recorrente nos hospitais, uma caixa preta, onde a culpa da má
gestão é colocada. Se existe um problema, é mais fácil colocar a culpa no SUS
do que arregaçar as mangas e tentar resolver os problemas”, afirma Bernardes.
O primeiro passo para tentar sanar essas dificuldades, alerta o
especialista é a profissionalização da parte administrativa. “O setor de
faturamento de um hospital é uma das coisas mais complexas que existem. Um erro
muito comum na gestão hospitalar é colocar médicos no comando estratégico.
Treinamento, liderança, indicadores e outras práticas comum nas empresas parece
que estão longe de muitos hospitais no Brasil.”, afirma ele, que ocupou cargo
de gestor hospitalar no Rio Grande do Sul.
Segundo ele, há hospitais que possuem uma gestão profissionalizada
que conseguem resultado financeiro melhor. “Mas os valores do SUS são os mesmos
para estes hospitais e para os outros. Então como é que conseguem? Gestão,
gestão, gestão”, aponta.
Vilão
Bernardes afirma ainda que o grande vilão no caixa de um hospital
é a quantidade de desperdícios. “Não somente com materiais inutilizados e
medicamentos não usados, mas com pessoas caminhando desnecessariamente dentro
do hospital, salas cirúrgicas vazias, equipamentos sem manutenção. A literatura
já fala, há muito tempo, que 40% dos recursos de um hospital são
desperdiçados”, ressalta.
MP acompanha situação de hospitais em Curitiba
A
Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública recebeu a informação no fim
do ano passado sobre a possibilidade de fechamento de leitos em hospitais
filantrópicos do estado, entre eles a Santa Casa de Curitiba. “A Promotoria de
Justiça está acompanhando a questão para verificar as providências que serão
adotadas pelo gestor público para resolver a situação”, informa em nota o
Ministério Público.
Um exemplo de erros de gestão é a Santa Casa de São
Paulo. A instituição enfrenta, desde 2014, a maior crise financeira
de sua história, com um rombo R$ 773 milhões nas
contas. Uma auditoria encomendada pela Secretaria Estadual da Saúde
apontou que existia má gestão na Santa Casa. Dentre as irregularidades, o
relatório indicou a compra de materiais superfaturados, pagamento de super
salários e fraudes em contratações de serviços.
Para os hospitais que já estão endividados a solução, segundo ele,
é começar imediatamente um projeto de reestruturação da estratégia e dos
processos, “proporcionando que esta dívida não aumente e quem sabe, ao passar
do tempo, estas dívidas antigas possam ser negociadas”, diz Jaime Gil
Bernardes.
Texto originalmente publicado no Jornal Gazeta do Povo de Curitiba
– PR
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/hospitais-filantropicos-precisam-investir-em-gestao-diz-especialista-5gqbsa8x4k6tabbsasiwre6sw
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