quarta-feira, 2 de maio de 2012

O que está acontecendo com a profissão de contador?

Por Jaime Gil Bernardes

Dois aspectos me chamam a atenção em relação a profissão contábil: a falta de valorização profissional e a falta de qualificação dos profissionais. É uma falácia, mas é o que está acontecendo.
Se por um lado, a contabilidade tem se mostrado cada vez mais como um setor estratégico dentro de uma organização, com informações confiáveis e cada vez mais rapidamente atualizadas, sendo um verdadeiro sistema de informações (os ERPs migram toda a sua gama de informações para a contabilidade), temos do outro lado profissionais que insistem em permanecer escondidos atrás da coluna, não se atualizando, não mostrando para o que vieram.
Claro que existem muitos bons profissionais, muitos com excelente formação e sempre interessados em se atualizar, capacitados para discutir os assuntos estratégicos da empresa em um nível altíssimo e sendo bem remunerados para isso. Felizmente este profissionais elevam o conceito da profissão contábil.
Mas, nos últimos meses tive a oportunidade de fazer auditoria contábil em algumas empresas e percebi que alguns contadores não se atualizaram devidamente, principalmente no que se refere a convergência à contabilidade internacional, ao IFRS e toda a nova legislação que desencadeou a partir de 2008. Incrível saber que muitos profissionais nem leram nada a respeito, não freqüentaram cursos e que apenas “ouviram falar”, deixando este assunto para depois. Mais incrível, ainda, ver contadores que não tem familiaridade com a informática, com e-mails, com relatórios gerenciais, com planilhas eletrônicas, contando com um assistente contábil para lhe auxiliar nestas tarefas que deveriam ser básicas. Estes mesmos contadores são aqueles que ficam reclamando que as empresas não os valorizam.
De quem é a culpa pela falta de valorização: do empresário que não quer desembolsar um salário (ou honorário) adequado, acreditando que a contabilidade é “apenas um custo”, ou do profissional que quer continuar a fazer apenas a sua contabilidade tributária, esquecendo a real missão que a contabilidade tem dentro da organização que é registrar tudo o que acontece e construir relatórios societários, devolvendo ao empresário uma informação de qualidade.
Somado a isso, ainda faltam cursos de especialização, de mestrado e de doutorado em Ciências Contábeis. Faltam mestres e doutores em Ciências Contábeis. Faltam cursos específicos em nível acadêmico visando o aprimoramento da profissão contábil, que poderia desencadear uma revolução na maneira como as organizações enxergam o setor de contabilidade. Falta que as universidades ensinem não apenas o básico, mas que mostre aos futuros profissionais a importância da profissão para o desenvolvimento da Nação.
Acredito que ainda falta um canal de comunicação entre as organizações e o seu próprio setor contábil. Esta falta de comunicação se dá porque os empresários não possuem uma base contábil consistente (sou a favor dos cursos do tipo “contabilidade para não contadores” para difundir este conhecimento) e não sabem utilizar esta ferramenta, aliado ao estigma que muitos contadores possuem de que são apenas custo na empresa, ficando com medo de se expor, não aparecendo para dar sua opinião, não efetivamente contribuído com a estratégia organizacional com suas informações e análises.
Outro aspecto da valorização profissional que me surge é a concorrência por valor de honorários ou por salário. A competição está trazendo os valores para baixo em um momento justamente em que temos que nos valorizar, pois o mercado está mudando e temos que mudar esta forma de negociação. Faltam bons profissionais e estes bons profissionais tem que serem reconhecidos pelo conhecimento.
Este é o momento de aprender tudo de novo no que refere a Ciências Contábeis. Não só no aspecto da nova legislação contábil, mas como os contadores se portam, como negociam seus honorários, qual a resposta que dão para as empresas. Está na hora de mostram para o que viemos, de participar estrategicamente das empresas, mostrar o que elas tem de bom e de ruim e utilizar a informação para impulsionar as empresas. Só assim os contadores terão condições de serem reconhecidos e valorizados.

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