quarta-feira, 7 de agosto de 2013

As 5 Lições Sobre a Queda do Império X

A CRISE FINANCEIRA DE EIKE BATISTA É UM ALERTA AOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS - CRIAR UM SISTEMA DE GESTÃO SÓLIDO É SEMPRE MAIS IMPORTANTE DO QUE ATRAIR QUANTIDADES ENORMES DE CAPITAL OU TER UM EXECUTIVO CHEFE FAMOSO

Por José Roberto Ferro

A queda meteórica de algumas das empresas X da holding EBX do Sr. Eike Batista deve ter surpreendido a muitos, assim com a sua ascensão em impressionante aceleração nos últimos anos.
O que aconteceu com o que parecia ser o maior e mais bem-sucedido empresário da história recente do Brasil? Por que o valor da maioria de suas empresas evaporou em tão pouco tempo?
Com negócios focalizados preponderantemente no setor de minérios, petróleo, infraestrutura e logística e expandindo também para o setor de serviços (hotéis, estádio de futebol etc.), esse empresário parecia estar próximo de chegar ao Olimpo do capitalismo mundial, apesar da adolescência da maioria de seus empreendimentos.
Conheço pouquíssimo sobre os negócios do Sr. Batista e suas empresas. Mesmo assim, um fenômeno de tamanha importância merece nossa atenção e reflexão para entendermos melhor os desafios e as dificuldades do mundo dos negócios.
Portanto, é importante tentarmos aprender algumas lições importantes sobre a gestão de empresas e levantar algumas hipóteses sobre o que pode ter ocorrido neste caso específico.

Lição 1: Capital não é tudo
Mesmo tendo conseguido levantar mais de R$ 60 bilhões para seus investimentos em múltiplas fontes, isso não foi garantia suficiente para viabilizar e fazer prosperar os negócios.
Capital não garante estabilidade nos negócios e nem faz alcançar metas estabelecidas. Também não garante ter uma empresa eficiente e não gera inovações necessariamente.
Dispor de muito capital não possibilita, assim, a sobrevivência dos negócios e pode até ter o efeito contrário, gerando uma acomodação e uma sensação artificial de poder.

Lição 2: Processos e capacitação são fundamentais
É muito importante ter processos e sistemas de gestão bem implementados que permitem um elevado conhecimento dos produtos, mercados além de processos internos robustos e eficientes.
O Sr. Batista procurou recrutar no mercado pessoas altamente qualificadas, com muita experiência em algumas das mais importantes empresas do país. 
Então, por que isso não foi suficiente? Não basta ter as melhores cabeças - mais importante do que dispor de pessoas brilhantes é desenvolver processos brilhantes. Pessoas individualmente supercapacitadas muitas vezes têm dificuldades de trabalhar em grupo, requisito para o sucesso de qualquer empresa, e quase sempre não são capazes de construir processos brilhantes.
A genialidade de um executivo brilhante pode ser vital na geração de inovações, o que não era o caso do ambiente empresarial bastante tradicional em que as empresas do Império X se encontram.
Desenvolver coletivamente processos sólidos e eficazes nunca pareceu prioridade nas empresas do Sr. Batista. Atrasos ou problemas, para ele, apenas reduziriam um pouco as margens de lucro que prometiam ser extraordinariamente elevadas.
A diversificação excessiva em áreas do negócio muito distintas dificulta o desenvolvimento do conhecimento técnico e gerencial das empresas, necessário para permitir o seu sucesso. 
A geração de valor e, portanto, de caixa das empresas do Império X ocorreu em ritmo mais lento do que o crescimento dos custos e dívidas. As expectativas de resultados que, em princípio, viriam no longo prazo, foram esvaziadas pela não entrega dos resultados esperados nesse último ano.

Lição 3: Cresça na velocidade possível, não na que você gostaria
Crescer de acordo com a capacidade técnica e gerencial e não de acordo com o desejo ou a quantidade de recursos disponíveis parece ser outra lição importante.
As empresas crescem rapidamente por conseguiram desenvolver produtos ou processos inovadores que oferecem uma perspectiva de crescimento imediata ou futura. Com isso, conseguem muito capital e outros recursos.
O crescimento rápido demais e artificial das empresas X dificultou ainda mais o desenvolvimento de processos sólidos e o aprendizado coletivo dos processos internos e dos mercados.
Mais importante do que simplesmente crescer é crescer com solidez e mantendo a eficácia. Sonhar ou ter ambições pode ser muito bom, mas igualmente fundamental é manter os pés no chão.

Lição 4: Aprenda com os erros
As empresas do Império X ora lidavam com atividades de altos riscos, ora recebiam concessões públicas onde tinham o monopólio.
Embora reconheça que teve fracassos em seus negócios anteriores como na fabricação de jipes e com uma empresa concebida para concorrer com os Correios, a ambição do Sr. Batista pareceu que, na realidade, tornou-o cego para as ameaças que a sua própria estratégia de elevados riscos e a fragilidade do seu modelo de negócios trazia.
A excessiva autoconfiança, facilitada pelo reforço positivo que recebia dos órgãos governamentais, da mídia e das fontes de recursos financeiros, acabou limitando a criação de alternativas de rotas caso problemas surgissem.
Qualquer negócio, mesmo em setores mais conservadores ou menos dinâmicos, tem riscos. Imagine então um negócio de exploração de minérios e de outros recursos naturais que é totalmente incerto e sujeito a inúmeras intempéries.
Os erros passados não pareceram ter servido de lição para administrar os negócios do presente.

Lição 5: Ego controlado
O status de celebridade, sua presença constante na mídia através de inúmeras ações públicas e do próprio desempenho espetacular de suas empresas tornaram a figura do Sr. Batista mais forte e mais importante do que suas próprias empresas.
É difícil controlar o ego de líderes empresariais de sucesso. Mas eles podem ter uma postura menos efusiva e glamorosa para manter o foco nos negócios. 
O próprio nome da holding, EBX, as iniciais de seu fundador adicionadas de um pretenso místico X significando multiplicação (de riquezas no início das atividades e de dívidas, mais recentemente), reflete esse elevado narcisismo e personalismo.

Em resumo, essas são cinco lições que podemos aprender desse caso. A recente crise financeira do império das empresas X é um alerta aos empresários brasileiros para o simples fato de que criar um sistema de gestão sólido com valores empresariais adequados é sempre mais importante do que atrair quantidades enormes de capital ou de ter um executivo chefe famoso. 
Riquezas criadas quase instantaneamente em sua ampla maioria surgiram de inovações de produtos como Steve Jobs ou de processos inovadores como Henry Ford. O modelo de gestão das empresas X assim como seus produtos e processos não foram inovadores. Ao contrário, foram bastante frágeis. Assim, a surpresa não deveria ser sua derrocada. Surpresa foi que tivessem atraído tanto capital, interesse e esperança por tanto tempo.

JOSÉ ROBERTO FERRO é Presidente e fundador do Lean Institute Brasil – http://www.lean.org.br/
Texto originalmente publicado em http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2013/08/5-licoes-sobre-queda-do-imperio-x.html