A CRISE
FINANCEIRA DE EIKE BATISTA É UM ALERTA AOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS - CRIAR UM
SISTEMA DE GESTÃO SÓLIDO É SEMPRE MAIS IMPORTANTE DO QUE ATRAIR QUANTIDADES
ENORMES DE CAPITAL OU TER UM EXECUTIVO CHEFE FAMOSO
Por José Roberto Ferro
A queda meteórica de algumas das empresas X da holding EBX do Sr. Eike Batista deve ter surpreendido a muitos, assim com a sua ascensão em impressionante aceleração nos últimos anos.
O que aconteceu com o que parecia ser o maior e mais bem-sucedido empresário da história recente do Brasil? Por que o valor da maioria de suas empresas evaporou em tão pouco tempo?
Com negócios focalizados preponderantemente no setor de minérios, petróleo, infraestrutura e logística e expandindo também para o setor de serviços (hotéis, estádio de futebol etc.), esse empresário parecia estar próximo de chegar ao Olimpo do capitalismo mundial, apesar da adolescência da maioria de seus empreendimentos.
Conheço pouquíssimo sobre os negócios do Sr. Batista e suas empresas. Mesmo assim, um fenômeno de tamanha importância merece nossa atenção e reflexão para entendermos melhor os desafios e as dificuldades do mundo dos negócios.
Portanto, é importante tentarmos
aprender algumas lições importantes sobre a gestão de empresas e levantar
algumas hipóteses sobre o que pode ter ocorrido neste caso específico.
Lição 1: Capital não é tudo
Mesmo tendo conseguido levantar mais
de R$ 60 bilhões para seus investimentos em múltiplas fontes, isso não foi
garantia suficiente para viabilizar e fazer prosperar os negócios.
Capital não garante estabilidade nos
negócios e nem faz alcançar metas estabelecidas. Também não garante ter uma
empresa eficiente e não gera inovações necessariamente.
Dispor de muito capital não
possibilita, assim, a sobrevivência dos negócios e pode até ter o efeito
contrário, gerando uma acomodação e uma sensação artificial de poder.
Lição 2: Processos e capacitação são fundamentais
É muito importante ter processos e
sistemas de gestão bem implementados que permitem um elevado conhecimento dos
produtos, mercados além de processos internos robustos e eficientes.
O Sr. Batista procurou recrutar no
mercado pessoas altamente qualificadas, com muita experiência em algumas das
mais importantes empresas do país.
Então, por que isso não foi
suficiente? Não basta ter as melhores cabeças - mais importante do que dispor
de pessoas brilhantes é desenvolver processos brilhantes. Pessoas
individualmente supercapacitadas muitas vezes têm dificuldades de trabalhar em
grupo, requisito para o sucesso de qualquer empresa, e quase sempre não são
capazes de construir processos brilhantes.
A genialidade de um executivo
brilhante pode ser vital na geração de inovações, o que não era o caso do
ambiente empresarial bastante tradicional em que as empresas do Império X se
encontram.
Desenvolver coletivamente processos
sólidos e eficazes nunca pareceu prioridade nas empresas do Sr. Batista.
Atrasos ou problemas, para ele, apenas reduziriam um pouco as margens de lucro
que prometiam ser extraordinariamente elevadas.
A diversificação excessiva em áreas
do negócio muito distintas dificulta o desenvolvimento do conhecimento técnico
e gerencial das empresas, necessário para permitir o seu sucesso.
A geração de valor e, portanto, de
caixa das empresas do Império X ocorreu em ritmo mais lento do que o
crescimento dos custos e dívidas. As expectativas de resultados que, em
princípio, viriam no longo prazo, foram esvaziadas pela não entrega dos
resultados esperados nesse último ano.
Lição 3: Cresça na velocidade possível, não na que você gostaria
Crescer de acordo com a capacidade
técnica e gerencial e não de acordo com o desejo ou a quantidade de recursos
disponíveis parece ser outra lição importante.
As empresas crescem rapidamente por
conseguiram desenvolver produtos ou processos inovadores que oferecem uma
perspectiva de crescimento imediata ou futura. Com isso, conseguem muito
capital e outros recursos.
O crescimento rápido demais e artificial
das empresas X dificultou ainda mais o desenvolvimento de processos sólidos e o
aprendizado coletivo dos processos internos e dos mercados.
Mais importante do que simplesmente
crescer é crescer com solidez e mantendo a eficácia. Sonhar ou ter ambições
pode ser muito bom, mas igualmente fundamental é manter os pés no chão.
Lição 4: Aprenda com os erros
As empresas do Império X ora lidavam
com atividades de altos riscos, ora recebiam concessões públicas onde tinham o
monopólio.
Embora reconheça que teve fracassos
em seus negócios anteriores como na fabricação de jipes e com uma empresa
concebida para concorrer com os Correios, a ambição do Sr. Batista pareceu que,
na realidade, tornou-o cego para as ameaças que a sua própria estratégia de
elevados riscos e a fragilidade do seu modelo de negócios trazia.
A excessiva autoconfiança, facilitada
pelo reforço positivo que recebia dos órgãos governamentais, da mídia e das
fontes de recursos financeiros, acabou limitando a criação de alternativas de
rotas caso problemas surgissem.
Qualquer negócio, mesmo em setores
mais conservadores ou menos dinâmicos, tem riscos. Imagine então um negócio de
exploração de minérios e de outros recursos naturais que é totalmente incerto e
sujeito a inúmeras intempéries.
Os erros passados não pareceram ter
servido de lição para administrar os negócios do presente.
Lição 5: Ego controlado
O status de celebridade, sua presença
constante na mídia através de inúmeras ações públicas e do próprio desempenho
espetacular de suas empresas tornaram a figura do Sr. Batista mais forte e mais
importante do que suas próprias empresas.
É difícil controlar o ego de líderes
empresariais de sucesso. Mas eles podem ter uma postura menos efusiva e
glamorosa para manter o foco nos negócios.
O próprio nome da holding, EBX, as
iniciais de seu fundador adicionadas de um pretenso místico X significando
multiplicação (de riquezas no início das atividades e de dívidas, mais
recentemente), reflete esse elevado narcisismo e personalismo.
Em resumo, essas são cinco lições que podemos aprender desse caso. A recente crise financeira do império das empresas X é um alerta aos empresários brasileiros para o simples fato de que criar um sistema de gestão sólido com valores empresariais adequados é sempre mais importante do que atrair quantidades enormes de capital ou de ter um executivo chefe famoso.
Riquezas criadas quase
instantaneamente em sua ampla maioria surgiram de inovações de produtos como
Steve Jobs ou de processos inovadores como Henry Ford. O modelo de gestão das
empresas X assim como seus produtos e processos não foram inovadores. Ao
contrário, foram bastante frágeis. Assim, a surpresa não deveria ser sua
derrocada. Surpresa foi que tivessem atraído tanto capital, interesse e esperança
por tanto tempo.
JOSÉ ROBERTO FERRO é Presidente e fundador do Lean Institute Brasil – http://www.lean.org.br/