Por Jaime Gil Bernardes
A caminhada gemba é uma ação de extrema importância para a melhoria de processos em uma organização.
Começo contando uma antiga história: Um empresário, mergulhado em dívidas e com pouca eficiência operacional em sua empresa e não tendo mais para onde se socorrer, resolveu procurar ajuda espiritual junto a um velho sábio. Ao explicar-lhe o problema, o sábio alertou-o que faltava em sua empresa um pouco de fé. Aconselhou-o a colocar cinco imagens de santos, um em cada canto da empresa e uma bem no meio. E deveria, todos os dias, fazer uma oração em cada imagem, tendo o cuidado de sempre alternar a ordem dos santos e nunca fazer o mesmo caminho em direção a cada imagem e nem fazer isso no mesmo horário. Algum tempo depois, a empresa saiu da crise e prosperou, com ajuda destas orações diárias do empresário.
Mal sabia ele que estava praticando a caminhada gemba. Uma dos mandamentos do Lean Manufaturing, onde é importante ir até onde as coisas ocorrem, conversar com as pessoas que executam, ficar a par dos problemas e das soluções in loco, sentir com todos os sentidos, ter a notícia direto da fonte.
GEMBA é uma palavra japonesa que em português representa o local onde as coisas acontecem, sendo, portanto, o ambiente operacional de uma organização, seja o chão de fábrica, a área de estocagem, a sala do call center, a loja, a oficina, o corredor do escritório, etc.
O pior lugar para se ver o mercado é do escritório. O pior lugar para ver a sua empresa também é do escritório.
Cada caminhada gemba deve ser um momento especial. Vá e sinta com todo os seus sentidos. Olhe o lay out. Sinta a motivação das pessoas. Veja se está tudo limpo. Perceba se não há atividades desnecessárias. Ouça as reclamações e sugestões. Toque nas pessoas. Sinta o cheiro dos produtos. Deguste a sensação que a empresa está andando conforme foi definido na estratégia. E isso não somente no horário normal do expediente, pois muitas coisas acontecem, também a noite.
Não basta olhar apenas por indicadores: tem que sentir como estes indicadores estão acontecendo, principalmente no que se refere a indicadores de recursos humanos e indicadores de desperdícios.
Se você só ouvir pelos outros, vai ter a opinião dos outros e nunca vai ter sua própria opinião. No final os outros estarão mandando mais que o líder, pois as informações começam a chegar filtradas, ao bel prazer de quem trouxe a informação.
Isso acontece, também, com a leitura alguns livros de administração que resumem as teorias de outros autores, onde, por preguiça, lemos estes resumos e deixamos de ter o entendimento por completo do que aquele autor original queria dizer, além de sermos conduzidos por conclusões de terceiros e não nas conclusões que o próprio autor queria nos transmitir.
Isso remete, ainda, aos modelos de planejamento estratégico. Alguns são descritivos, botton up, onde os funcionários podem (e devem) opinar como será o planejamento das ações estratégicas, sabedores do que ocorre no dia a dia da organização. O outro modelo é o prescritivo, top down, onde o gestor prescreve como serão as ações, assim como um médico prescreve um remédio a um paciente. Apenas prescreve e espera que suas ordens sejam “cumpridas”.
Em meus trabalhos de consultoria sempre convido o gestor a fazer duas coisas: andar pela sua própria empresa e olhar a empresa de fora, sob uma ótica exterior. É muito interessante como o gestor começa a perceber coisas que estavam sempre a sua frente e que não foram percebidas. Muitas vezes coisas simples, como a falta de lixeiras, outras vezes aspectos complexos, como o excesso de pessoas apenas andando pela empresa, sem fazer nada.
Portanto, faça a caminhada gemba, seja diariamente, seja uma vez por semana: mas faça. Você vai se surpreender com o resultado.
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